sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Capitulo 1 - Coragem

       Sofrimento, já não sei se é a palavra apropriada pra demonstrar o que estou sentindo agora, uma vontade de imensa de chorar, mas dos meus olhos há muito tempo não saem lagrimas. Sentado no chão de meu quarto escuro de cabeça baixa, braços apoiados no joelho, tentando pensar o que fazer agora, porém nada há de vir na mente, a única coisa perto de mim é a calibre .38 deixada por um de meus irmãos depois daquilo acontecer, ela pode atirar 5 vezes, porém no momento só há uma bala, e depois de quase 2 dias nesse quarto me alimentando de salgadinhos esta bala está começando a me atrair, se é que você me entende. Porém se essa bala tivesse me atraído realmente, eu não estaria contando estes fatos para você. Não há mais nada pra pensar, as únicas alternativas que vejo pra mim são suicídio e tentar ir embora desse quarto imundo, me sinto como um gatinho indefeso numa jaula de leões.    
          Tomo coragem, apoio minhas  mãos no chão, desdobro os joelhos e finalmente levanto, fico com um leve tonteira, aliás fiquei muito tempo sentado. Caminho até a direção da porta, mas não saio, aperto o interruptor, uma claridade imensa chega aos meus globos oculares, fecho os olhos imediatamente e curvo minha cabeça para baixo na tentativa de abafar a luz, segundos se passam e consigo estabilizar minha visão. Abro a porta do guarda roupa e pego minha mochila que estava no chão, uma mochila preta com um remendo em baixo, pois havia rasgado na escola, pego 4 blusas, 5 shorts e um tênis reserva e ponho na mochila. Com as mãos tremendo, abro a porta do quarto e me deparo com alguém sentado no sofá e uma poça de sangue em volta, parecia um deles. Corro minha mão até o bolso de minha calça jeans, pego meu calibre e dou um grito tremulo, na tentativa de alguma resposta:
         - QUEM É VOCÊ ? – Me bate um arrependimento, lembrara que depois do ocorrido, havia “barricado” a casa e que meu irmão estava morto no sofá, isso mesmo morto, escrevo essa ultima palavra com muita amargura no coração. Depois de ficar em pé com a arma apontada 5 minutos pensativo, guardo a mesma na jeans e caminho para a cozinha. Chego à minha básica cozinha de sempre com o peso nas costas da morte de meus familiares, só de pensar que estou vivendo um apocalipse, me da vontade de vomitar, porém agora não tenho tempo de vomitar ou chorar leite derramado, estico minhas mãos para abrir as prateleiras, pego algumas embalagens de salgadinho e uma faca, respiro fundo, encaro o espaço ao meu redor, ponho a faca na cintura e saio pelas portas do fundo. Deparo-me com minha bicicleta, presa na cerca marrom por uma corrente enferrujada, cheia de poeira quase inutilizável, porém com um pouco de esforço daria para andar com ela, o que não há de convir pois os pneus estão quase rasgados ao meio, uma ideia veio a minha mente, não era burro de sair da minha casa cheio de zumbis por ai, me aproximei da cerca marrom, com impulso de um dos pés, dou um salto pequeno, me debruço e dou uma boa olhada para fora. Mesma coisa de sempre, carros de cabeça para baixo, hidrantes quebrados, postes no chão, muito mais muito sangue no chão, corpos, enfim, nada mudou. Agora, tive coragem de vir até aqui, mas agora qual será o meu destino, aonde vou? Fico de costas, me apoio na cerca e fico pensativo cerca de 2 minutos. 2 minutos, tempo suficiente para uma ideia vir a minha cabeça, aliás, estava com fome, e um pacote de salgadinhos na mochila com certeza não durará para sempre. Debruço-me na cerca de novo e vejo uma alta luz, um clarão, era o supermercado da avenida, com certeza não deve haver ninguém lá, ou ninguém vivo. Tomo coragem, abro o portão e vou caminhando.